Rock: o antes e o hoje

D. G. Gelman
5 min readJan 13, 2020

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créditos: BenitoSly/https://imgur.com/gallery/Piajg9r

Gene Simmons, baixista da lendária banda Kiss, entrevistado em 2014 fez uma polêmica afirmação: ´´O rock and roll está morto. Isso é muito triste para novas bandas, elas não tem nenhuma chance. Hoje é muito melhor você aprender a cantar no chuveiro ou tentar uma audição para o X Factor ou American Idol´´. Ele está certo? Não.

O mundo mudou, e o jeito de fazer e viver de música também. De fato, hoje é um desafio acender na indústria musical como uma banda de rock e ser famoso porque o público, no geral, não se interessa tanto mais por rock n´roll. O Rock deixou de ser mainstream na indústria musical e a Nostalgia e o Rap ocuparam o trono. Dificilmente vamos ter um novo grupo como The Beatles ou um grande compositor como Bob Dylan. Comparando ao Brasil, dificilmente teremos um novo Legião Urbana ou um Gilberto Gil.

Gene Simmons. CRÉDITOS: NBC NewsWire / Getty Images

A morte do rock, de acordo com Gene Simmons, foi a introdução do compartilhamento de arquivos entre os jovens brancos de classe média no início dos anos 90. ´´Eles se sentem no direito de terem as coisas de graça porque estão acostumados a terem tudo de mão beijada. Se você é um capitalista, esta forma de pensar destrói a estrutura do sistema. E olha que eu defendo o livre-mercado´´. Essas palavras, vindas de um dos integrantes da maior banda capitalista de rock foram, de um certo jeito, uma premonição para o atual cenário da música. Na década de 2010, foi introduzido as plataformas de streaming (Spotify, Netflix, Deezer, etc) e o YouTube, uma plataforma de vídeos gratuita, foi popularizado. As grandes empresas passaram a investir nessas plataformas e hoje, dependem delas para investir em conteúdos de entretenimento e em artistas musicais por exemplo. Um artista hoje não precisa, necessariamente, ter músicas com composições complexas ou uma crítica social nas letras, basta criar um canal no YouTube e ter muitas visualizações ou ter mais de mil seguidores no Instagram. Qualidade deixou de ser um quesito crucial no que tange à popularidade e fama.

O Kiss é a banda com o maior merchandise que existe. Seus produtos vão de CDs, camisetas e vinis até… bom, o céu é o limite para essa banda. Aqui tem um link pro top 6 merchandises mais bizarros da banda: https://heavymetalblunder.wordpress.com/2014/12/08/top-6-strangest-kiss-merchandise/

Levando isso em consideração, a música mudou e as pessoas mudaram. Música é arte. Aprendemos na escola que nada na arte é estável. Às vezes, uma nova corrente artística destrói o passado e apresenta novos elementos, sentimentos e formas de pensar presentes na sociedade através das pinturas, obras literárias, poemas. Ou olha pro passado quando sofre uma crise de identidade e introduz velhas coisas e as chama de novas. Hoje, o Rock se encontra assim no cenário musical. Há muitas bandas novas que são promissoras, mas as pessoas se interessam mais por outros gêneros e novos artistas. Mas isso não anula o fato das pessoas deixarem de ouvir Rock, pois ouvem-se mais bandas antigas do que bandas novas, e dentro da indústria musical, é um gênero ainda muito lucrativo. Basta olhar para o Metallica, uma das maiores bandas de rock que ainda lota estádios no mundo inteiro e seus shows tem uma produção impecável. O mesmo vale para The Rolling Stones, Paul McCartney, Elton John, Red Hot Chili Peppers, etc.

No Brasil, parece que paramos um pouco no tempo. O Funk acendeu e o Rap também, e o Rock ficou no limbo. As pessoas pararam de ouvir as bandas brasileiras e o gênero perdeu credibilidade e popularidade no país. O motivo disso é que possivelmente, o rock nacional se inspirava no internacional e não conseguiu se adaptar às novas tendências da indústria a partir da década de 2010. Outra razão é que a atitude de um rockeiro, rotulada como rebelde, protestante, etc. se desgastou dentro de seu gênero. E essa ´´atitude´´ se transferiu para os rappers e funkeiros brasileiros. Exemplo de Restart (o ´´último grande´´ hit do rock nacional), Costa Gold e Anitta. Artistas de rock, rap e funk, respectivamente, que surgiram nos anos 2010. Anitta é um sucesso internacional, Costa Gold permanece no underground e Restart não existe mais. A ´´atitude´´ destes artistas são as ações e a imagem que transmitem ao público. Então, pegamos Restart, por exemplo, uma banda que se veste com roupas coloridas e canta um ´´rock chiclete´´, isso se popularizou no início da década entre jovens adolescentes, mas não foi capaz de se permanecer, pois estes jovens cresceram e se identificaram mais com Anitta e Costa Gold, cujas atitudes variam entre rebolar a bunda e cantar rap a respeito de uma decepção amorosa, drogas, um crush, etc. Com letras e críticas fortes. Restart não conseguiu prender a atenção dos jovens pois não se reinventou. Foi algo momentâneo. E é isso que a música é hoje.

Sim, é o Restart. Créditos: Dedoc VEJA.com/VEJA

A música é algo momentâneo, é uma caixa de surpresas. O Metallica poderia ou não estar fazendo shows depois de quase 40 anos de banda, e o Rock brasileiro também, uma grande possibilidade para o gênero é ele se popularizar de novo e os mesmos fãs de Restart e outras novas bandas terem a chance de reviver uma memória ou conhecerem novas bandas. Isso já acontece no underground. E bandas como Ego Kill Talent e Supercombo estão cada vez mais perto de estourarem. Então, Gene Simmons pode ou não estar certo. Mas de fato, nunca mais teremos os novos ´´Beatles´´, eles foram um manifesto musical de um momento específico dos anos 60/70. Deixando um legado eterno para a música. Arte não é permanente, mas as obras são.

PS: Há alguns nomes ou palavras sublinhadas. Nele coloquei links de músicas. Aproveite pra conhecer e/ou curtir um som!

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D. G. Gelman

I write about life and geek things while being funny and smart at the same time. Articles in Portuguese and English. Based in Sao Paulo, Brazil.