Rock: o antes e o hoje
Gene Simmons, baixista da lendária banda Kiss, entrevistado em 2014 fez uma polêmica afirmação: ´´O rock and roll está morto. Isso é muito triste para novas bandas, elas não tem nenhuma chance. Hoje é muito melhor você aprender a cantar no chuveiro ou tentar uma audição para o X Factor ou American Idol´´. Ele está certo? Não.
O mundo mudou, e o jeito de fazer e viver de música também. De fato, hoje é um desafio acender na indústria musical como uma banda de rock e ser famoso porque o público, no geral, não se interessa tanto mais por rock n´roll. O Rock deixou de ser mainstream na indústria musical e a Nostalgia e o Rap ocuparam o trono. Dificilmente vamos ter um novo grupo como The Beatles ou um grande compositor como Bob Dylan. Comparando ao Brasil, dificilmente teremos um novo Legião Urbana ou um Gilberto Gil.
A morte do rock, de acordo com Gene Simmons, foi a introdução do compartilhamento de arquivos entre os jovens brancos de classe média no início dos anos 90. ´´Eles se sentem no direito de terem as coisas de graça porque estão acostumados a terem tudo de mão beijada. Se você é um capitalista, esta forma de pensar destrói a estrutura do sistema. E olha que eu defendo o livre-mercado´´. Essas palavras, vindas de um dos integrantes da maior banda capitalista de rock foram, de um certo jeito, uma premonição para o atual cenário da música. Na década de 2010, foi introduzido as plataformas de streaming (Spotify, Netflix, Deezer, etc) e o YouTube, uma plataforma de vídeos gratuita, foi popularizado. As grandes empresas passaram a investir nessas plataformas e hoje, dependem delas para investir em conteúdos de entretenimento e em artistas musicais por exemplo. Um artista hoje não precisa, necessariamente, ter músicas com composições complexas ou uma crítica social nas letras, basta criar um canal no YouTube e ter muitas visualizações ou ter mais de mil seguidores no Instagram. Qualidade deixou de ser um quesito crucial no que tange à popularidade e fama.
Levando isso em consideração, a música mudou e as pessoas mudaram. Música é arte. Aprendemos na escola que nada na arte é estável. Às vezes, uma nova corrente artística destrói o passado e apresenta novos elementos, sentimentos e formas de pensar presentes na sociedade através das pinturas, obras literárias, poemas. Ou olha pro passado quando sofre uma crise de identidade e introduz velhas coisas e as chama de novas. Hoje, o Rock se encontra assim no cenário musical. Há muitas bandas novas que são promissoras, mas as pessoas se interessam mais por outros gêneros e novos artistas. Mas isso não anula o fato das pessoas deixarem de ouvir Rock, pois ouvem-se mais bandas antigas do que bandas novas, e dentro da indústria musical, é um gênero ainda muito lucrativo. Basta olhar para o Metallica, uma das maiores bandas de rock que ainda lota estádios no mundo inteiro e seus shows tem uma produção impecável. O mesmo vale para The Rolling Stones, Paul McCartney, Elton John, Red Hot Chili Peppers, etc.
No Brasil, parece que paramos um pouco no tempo. O Funk acendeu e o Rap também, e o Rock ficou no limbo. As pessoas pararam de ouvir as bandas brasileiras e o gênero perdeu credibilidade e popularidade no país. O motivo disso é que possivelmente, o rock nacional se inspirava no internacional e não conseguiu se adaptar às novas tendências da indústria a partir da década de 2010. Outra razão é que a atitude de um rockeiro, rotulada como rebelde, protestante, etc. se desgastou dentro de seu gênero. E essa ´´atitude´´ se transferiu para os rappers e funkeiros brasileiros. Exemplo de Restart (o ´´último grande´´ hit do rock nacional), Costa Gold e Anitta. Artistas de rock, rap e funk, respectivamente, que surgiram nos anos 2010. Anitta é um sucesso internacional, Costa Gold permanece no underground e Restart não existe mais. A ´´atitude´´ destes artistas são as ações e a imagem que transmitem ao público. Então, pegamos Restart, por exemplo, uma banda que se veste com roupas coloridas e canta um ´´rock chiclete´´, isso se popularizou no início da década entre jovens adolescentes, mas não foi capaz de se permanecer, pois estes jovens cresceram e se identificaram mais com Anitta e Costa Gold, cujas atitudes variam entre rebolar a bunda e cantar rap a respeito de uma decepção amorosa, drogas, um crush, etc. Com letras e críticas fortes. Restart não conseguiu prender a atenção dos jovens pois não se reinventou. Foi algo momentâneo. E é isso que a música é hoje.
A música é algo momentâneo, é uma caixa de surpresas. O Metallica poderia ou não estar fazendo shows depois de quase 40 anos de banda, e o Rock brasileiro também, uma grande possibilidade para o gênero é ele se popularizar de novo e os mesmos fãs de Restart e outras novas bandas terem a chance de reviver uma memória ou conhecerem novas bandas. Isso já acontece no underground. E bandas como Ego Kill Talent e Supercombo estão cada vez mais perto de estourarem. Então, Gene Simmons pode ou não estar certo. Mas de fato, nunca mais teremos os novos ´´Beatles´´, eles foram um manifesto musical de um momento específico dos anos 60/70. Deixando um legado eterno para a música. Arte não é permanente, mas as obras são.
PS: Há alguns nomes ou palavras sublinhadas. Nele coloquei links de músicas. Aproveite pra conhecer e/ou curtir um som!